quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Bordas.

 "Para ser tolerante é preciso fixar os limites do intolerável", frase do instigante e, para mim fascinante escritor Humberto Eco. Por outro lado, Voltaire, filósofo iluminista, raciocinou: "- Posso não concordar com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las". Essas máximas me vem à cabeça quando observo acontecimentos de explícita intolerância ao diferente, ao que não faz parte do status quo (estabelecido sabe Deus como). 


Tenho a impressão que a atmosfera plúmbea dos anos 30 do século passado está a dar o ar fétido de sua graça: intolerâncias, xenofobias, racismos e mentiras espalhadas em redes. Características desse sistema discordante e avesso a ações despretensiosas, refratário em descobrir e espalhar misericórdias...Sem pieguices. Ignorante do fato daquilo que nos é fundante: diversidades. Caso contrário todas essas manifestações não estariam, mais uma vez, salientes e sequiosas em se exibir. 

Em tempo: há que considerarmos o tempo, ou período em que cada um dos citados nessa brevíssima reflexão as conceberam e nos repassaram - Voltaire, lá do século 18, nos mostrou o quão árdua e importante foi a luta contra o absolutismo monárquico. Humberto Eco, nosso contemporâneo, nos brindou com essa pérola no livro "Migração e Intolerância", publicado por aqui em 2020.

Entre Humberto e Voltaire, pendo pro Eco, em defesa, sempre, da liberdade!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Acorda, Alice.

Pela janela vejo a parede amarela de um prédio, um pedaço de um morro, verdinho, e uma avenida, e telhados..e lá em cima, o céu azul, fundo, com nuvens..brancas. Na parede amarela eu abro um horizonte, como o abro pra qualquer lugar aonde giro meus olhos. Descubro: o horizonte fica dentro de mim. A esperança..também. Esperança de dias largos, de alegrias juvenis, de vento no rosto de sorriso solto e largo. Você pode andar..por aí, sem medo de se machucar, porque o mundo é leve, livre, e bom. Como o sol que aquece as manhãs no inverno. 
No entanto...A parede amarela se impõe e me mostra que é hora de fazer por onde.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Quando o silêncio fala.

Lourdinha e Lúcia. Em dois momentos únicos, porém semelhantes, essas duas amigas tiveram uma presença importante na minha vida. A primeira, na inesperada primeira morte vivida tão perto..dentro de meu coração: meu irmão Clebinho se foi..tão novo e sério e apavorado. A segunda, numa morte anunciada: meu amado marido Devanir partiu desse mundo..tão cansado de sofrer, tão resignado depois de tanta luta e impotência diante da incapacidade imposta no auge de sua força e produtividade.  
Nessas duas ocasiões elas me ampararam apenas segurando minha mão. 
Silêncio..aquele que nos fala que não estamos sozinhas na dor..na qual a inimiga morte nos determina o limite, e que nos aponta o elo fulgurante da vida. 
Duas presenças silenciosas e reconfortantes. Obrigada. 
Ouvindo BB King the blues...

https://youtu.be/tR8Vykz3UuY


terça-feira, 26 de abril de 2016

Aposentadoria

30 anos, 03 meses, 13 dias ou 11053 dias. Esse foi o tempo trabalhado para os "outros".  Será que somos os donos de nosso tempo? Comecei a trabalhar em 1984, na antiga Diretoria Regional de Saúde de Itabira. Minha filha ia fazer dois aninhos e eu estava um tanto atordoada pelos os últimos acontecimentos de minha vida - talvez um dia escreverei sobre esse período. Lembro-me, não com precisão de quem falara comigo ao telefone. Mas foi numa quinta-feira, à tarde, que alguém me ligou e falou pra que eu fosse no outro dia, pela manhã, na rua Major Paulo, 45, perto da Igrejinha
do Rosário. Fui. E, a partir daí, passaram-se esses 30 anos. O que é uma vida? Então, agora tenho todo o tempo para me ocupar de mim..de me empoderar. Essa é uma sensação muito, muito boa mesmo. Sempre falei para meus alunos sobre um estudo da neurociências que dizia que saber ler é fundamental, não apenas para entender o mundo, mas entender o conceito de passividade, de receptor. Sem isso, você não consegue alcançar, a contento, a próxima fase de seu empoderar-se, ao conseguir escrever suas visões de mundo. Ali estava o grande lance da comunicação humana. E saber que podemos nos expressar em diversos meios, é muito instigante. Uma coisa é certa, neste momento meu corpo me dá sinais claros de que o tempo dele está começando o seu próprio fim. Uau! 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Fragmentos de um diário...

E assim..de memórias entrecortadas ia tecendo, sobre si, sua história. Recortes de realidades diversas e, no entanto, iguais..girando... 
- O que há além do círculo?
                                                       -----
A verdadeira magia acontece quando você toma sua vida em suas mãos. E tanto mais verdadeiro o sonho se torna quanto mais formos solidários em nossas diferenças... O que nos une é sermos únicos. 
                                                        ----
Quando minha filha veio ao mundo, eu não pensava em nada, especificamente, para ela. Eu pensava: minha filha é "uma tela em branco" na qual ela mesma terá que se construir. Eu apenas a apoiaria, se ela assim o quisesse. Quando a vi, seu nome iluminou minha mente: ALICE. E eu a amei mais que tudo que havia amado antes. E é para o resto de meus dias. 
                                                      --------

"Essa máquina mata fascistas". Arlo Gutrie, sobre sua guitarra.

" A ciência comprova que é o silêncio que mata as pessoas..."  Esqueci de anotar de onde tirei essa frase, mas me faz sentido.
                                                     ----------
E o que direi? É melhor ir, seguir em frente, indo aonde a estrada me levar e ver o mundo, pensar os meus olhos, do que ficar e orar. "- O que você fez ontem? - Orei. - E o que faz agora? - Oro!
Oro e vejo milagres de encontros, vejo lágrimas pelos que se foram, mãos que se unem em nome da vida, crianças que nascem, amores que se casam..para sempre?
- E nós, eu e você e todos que se encantam pelo inesperado brilho das estrelas, da inebriante luz do luar e aquele ar das manhãs.
- O que nos une? O que nos diferencia nos separa, ou nos une?