segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre foto da família de Lampião

"Ao mirar uma foto antiga
em preto e branco
pinto-a com as cores da minha imaginação
Aquele rapaz passa a ter olhos verdes e
cabelos alourados
O vestido da senhora é azul escuro, com uma fita vermelha
A menina-moça usa vestido rosa
A outra, veste amarelinho claro
Os outros rapazes, tão elegantes,
cheiram a aniz e chocolate
Juram amor eterno...
debaixo de árvores frondosas...
sob um céu escaldante de luz...
Se a história é passado que já foi presente
Considero o pequeno tempo de vida que nos é
destinado.
Nada além, nada aquém
Só temos o aqui e o agora
Como eles também tiveram outrora.
Tão cheios de vida
Tão cheios de poeira
Revelados num clic de fotografia."
           Lilian
12-07-10

terça-feira, 25 de maio de 2010

Publicado na década de 1920, considero Martim Cererê, de Cassiano Ricardo, uma pérola de nossa literatura. Já disse aqui que seria muito interessante se, na minha adolescência o tivesse lido, mesmo se fosse indicado pelas professoras - o que todo jovem detesta, diga-se de passagem. Mas vamos saborear um pedacinho do referido livro ...
" I
A moça bonita, chamada Uiara, morava na Terra Grande.
Dizem que tinha cabelo verde, olho amarelo...
O mato é verde; pois os seus cabelos eram mais verdes. A flor do ipê é amarelo; pois os seus cabelos eram mais amarelos.
II
Então apareceu um homem de outra raça. Era branco, disse que gostava de luar e de guitarra. Marinheiro, viera cavalgando uma onda azul. Ouvira a fala da Uiara e não se fez amarrar, como Ulisses, ao mastro do navio, nem mandou tapar com cera os ouvidos aos demais companheiros; ao contrário, saltou em terra e ofereceu-se pra casar com ela.
- Não tem dúvida, só exijo uma condição: vá buscar a noite e eu me casarei com você. Sem noite,não...O sol espia tudo o que a gente faz; e vê tudo...pelos vãos das folhas." 

A partir daí, descortina-se todo um enredo extremamente plástico sobre a formação de nossa história. Fiquei e estou encantada. Recomendo a todos que gostam de ler, e até aqueles que não são chegados a essa atividade ao mesmo tempo solitária e repleta de companhia, que é a leitura de um bom livro. Em relação ao aproveitamento  nas atividades em sala de aula, como enriquecimento nas aulas de história, português, artes, são imensas as possibilidades... 

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Terminamos a greve na PMI ontem, a tarde. Já previa que isto iria acontecer diante da intransigência dos dirigentes atuais de nosso município e diante da fragilidade do nosso movimento. Alguns dirão que foi um erro crasso de avaliação por parte da direção do sindicato ao não perceber sua falta de organização na base da categoria. Concordo, em parte.
Mas, qual é o limite entre omissão e covardia? Todos concordam que o aumento oferecido está muito aquém do esperado numa Prefeitura que possui uma das maiores arrecadações do Estado. Todos concordam que a riqueza produzida por nossos trabalhadores é muito grande. Todos concordam que essa riqueza é, assim como no resto do país, extremamente mal distribuída. Servidores municipais são, em sua maioria, a base da pirâmide social em Itabira. A média salarial gira em torno dos mil reais. Se muito. Tem servidores que, após quinze, dezesseis anos, continuam recebendo pouco mais que um salário mínimo, pois não há uma preocupação em fazer valer a tabela da categoria.
Mas o que é um verdadeiro acinte é perceber que algumas pessoas ligadas, de alguma forma,  ao poder municipal,  enriqueceram espantosamente num período muito pequeno para tanto acúmulo de riqueza. Não há como provar se tal enriquecimento é ilícito. Mas é inexplicável, aos olhos da maioria. Não justifica apenas a afirmação que todos trabalham para isso. Há riquezas que não são, definitivamente, fruto do suor sagrado do trabalho. Enfim ...
O que ficou estampado para todos verem foi a intransigência da direção da PMI e da demonstração de força com o objetivo de desacreditar o movimento. Como diz a música: Hoje você é que manda, falou, tá falado, não tem discussão... Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...
Então, refaço a pergunta: qual o limite entre omissão e covardia? Entre omissão e concordância com tal estado de coisas?
Estou de alma lavada. Contribuí para que caísse a máscara de bom moço, de cristão piedoso, de devoto de todos os santos e credos. A face do lobo se mostrou claramente aos olhos dos diversos e valorosos servidores que disseram NÃO ao desmando e à intransigência . Quem é justo não persegue, não utiliza do poder para para se dar bem em detrimento da maioria. Quem é justo busca a conciliação e a negociação transparente entre os diversos atores sociais. O bom dirigente trabalha para agregar saberes em benefício da maioria. Afinal, quanto maior o número de pessoas satisfeitas numa organização, mais forte esta se torna. 
A luta continua...
Termino esta fala com um poema do meu saudoso primo Fernando Dempsei:

Gratidão

Vamos falar um pouco sobre
As cobras, os lagartos e os escorpiões,
Sobre os venenos lançados ao léu,

Da inquietação dos que não conseguem dormir
Sem a cota diária de maldade.

A eles, um brinde...

Pela força que conduz
Os Bons  ao Paraíso.












sábado, 17 de abril de 2010


Estamos em greve. Pensei que quando chegasse a essa altura do campeonato, esta situação não  seria colocada nas ruas novamente.
Qual o quê? Tivemos que voltar. É incrível como os governos insistem em querer manter a falta de memória em suas ações... E quanta insensibilidade por parte do secretariado. Depois de três anos sem reajustes salariais, ofereceram pífios 5% e fecharam as negociações, desafiando a diretoria do nosso sindicato. Pronto. Eles pensam estar acima do bem e do mal. Não se tocam que daqui a um tempo retornarão às suas vidinhas comuns, e aí o que vale é a simplicidade e a lealdade aos princípios da vida = fazer o bem a todos ao seu redor e utilizar o poder com justiça e equidade.
O que fica claro para todos é que quando um político fala em melhorar a qualidade de vida de todos, na verdade estão se referindo a todos de sua família e agregados. São coronéis, patéticos.
As pessoas de bem precisam se manifestar pois, quem cala, consente.


domingo, 28 de março de 2010

Mais um domingo maravilhoso! O dia correu claro e límpido. A noite no mesmo nível: lua clara e límpida. O ar, por mais infestado de minério que possa estar, é muito melhor que o da cidade grande, seja ela qual for. Por tudo isso, já me sinto satisfeita. Eh Itabira... A cada esquina, uma ins-piração!
Pela manhã, quando estava concentrada num livro (adoro ler aos domingos de manhã), toca a campainha e uma simpática senhora, acompanhada de uma jovem, pede permissão prá me fazer um convite. Tão educada, que eu aceitei. Eram Testetmunhas de Jeová, convidando pra participar de uma palestra e etc e tal. Foram tão gentis, educadas e sorridentes que não tive como informá-las de minha descrença neste tipo de coisa. Também, não iria adiantar muito. Cada qual com sua fé e crença. Lembrei-me que também já fui assim, um dia. Quando da fundação do Partido dos Trabalhadores, no início dos anos oitenta, fui militante de carteirinha, e participei da campanha de filiação para ajudar na fundação do Partido. Perdi a conta das casas que visitei e das pessoas que filiei. Algumas continuaram, outras, só mesmo por gentileza se deixaram filiar, mas nunca foram militantes. Agradeço a elas a paciência que tiveram comigo e com todos os militantes daquela época. Ainda acredito na proposta do PT, por mais estranho que possa parecer. Aprendi muito quando caminhei lado a lado com todos os fundadores do Partido. Foi uma grande escola. Digo foi porque a fila anda, não é? Muita água passou por baixo da ponte e, como tudo na vida, as coisas mudam. Mas continuo com aquele mesmo ímpeto pras mudanças e propostas novas. Estou na educação, e adoro o que faço. A cada dia, um caminhar diferente, uma nova aprendizagem. Seja com meus alunos, seja com meus colegas, seja com o sistema de ensino e propostas de governos. O que fica a cada dia mais nítido é a falta de compromisso dos governos com a causa. Existem os bem intencionados, os compromissados. Mas, a realidade salarial é nefasta! Aviltante!

domingo, 21 de março de 2010


Esta semana recebi um livro, enviado pelo correio, da Editora Três. Quando abri, não fiquei muito animada, pois se tratava de um livro do padre Fábio de Melo e do educador Gabriel Chalita. Confesso: às vezes sou muito ateia, ou melhor, pagã. Tenho certa resistência às ideologias e práticas da igreja católica. Afinal, sou professora de história, faz parte de minha profissão (que exerço por prazer),estudar e pesquisar para manter-me atualizada. E até hoje, o que sei sobre a igreja e seus dogmas não me deixam cá muito animada sobre o que quer que venha dela ou de seus seguidores... Ao longo de sua história percebe-se muito preconceito, defesa intransigente do status quo, do poder, em detrimento de outras culturas e explicações sobre o que se considera divino. E olha que minha família, em sua maioria é católica, fui educada num colégio católico, o hoje adorável Colégio Nossa Senhora das Dores. Mas, todas as religiões acabam por impor regras e sou meio anarquista.
Entretanto, como o livro esta aqui, resolvi passar os olhos. Chama-se Cartas entre amigos, sobre medos contemporâneos.  Tem a foto dois autores, liiindos, com uma expressão bonita no rosto. Abri o livro e comecei a ler a primeira carta, que é do Chalita. Encantei-me! Nunca tinha lido nada dele. Nesse texto, ele versa sobre a perda de entes queridos de uma forma tocante. Tem umas frases que parecem pérolas: “[...] A felicidade só deixa de ser utopia quando nos completamos com a inteligência e o afeto do outro. Não entendo a tristeza como ausência de felicidade. [...] A tristeza nos empresta respeito ao outro e percepção mais aguçada da dor.
Assim como esse livro, outros escritos por religiosos trazem propostas que nos humanizam, por que nos mostram limites para a soberba. No entanto, apenas lê-los não garante nossa humildade. Muito mais que isso, nossa ação neste sentido é o que importa. Esse é o pulo do gato. Muitas pessoas leem e releem textos considerados sagrados e continuam mesquinhas no dia a dia. 
Vou continuar lendo o livro dos dois e sei que terei gratas surpresas. Recomendo...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Cavalo Ferro - Ednardo, Teti, Rodger Rogério

Ednardo surgiu na minha vida no início de minha adolescência. Isso tocava nas rádios, o dia inteiro. Somos gratos por isso. Vida longa Ednardo. Espero que curtem, como eu!


Lá vai mais um:

"Crescei e multiplicai-vos


O dia vai surgindo no horizonte,

A vida vai gerando vida

Dentro do Ser Humano

Um universo abdominal pulsante,

protege com carinho, amor e ternura

Um coração que bate forte e acelerado.


O mundo prepara seus caminhos,

E, neles, as armadilhas.

A natureza espalha sementes,

(De Bons e Maus frutos)


Deus projeta um pedaço de si,

Para sofrer, sorrir e sonhar entre os homens."



Este poema é do meu primo, Fernando Dempsei, e foi publicado em 1992, em seu livro de produção independente A expressão corporal da luz - Poesias surrealistas. Na época ele trabalhava na Telemig, e teve até matéria publicada no jornal Estado de Minas. Acho que foi apenas esta tentativa. O Fernando morreu em 2007. Deixou filhos, parentes e amigos muito chocados, pois era um homem novo e todos achávamos que ficaríamos velhinhos, lembrando de nossas infâncias e observando as coisas rolarem. Não deu. Mas seu livrinho ficou e tem poesias muito bonitas. Foi sua leitura de mundo. Era uma pessoa positiva, dócil e alegre. De vez em quando foi postar outros de sua autoria.


Mudando de pau pra cavaco, 2010 começou debaixo de água: dentro e fora de nós. O que a chuva tem de bom e de vida teve também de trágico. As enchentes e desabamentos nos demonstram o quantos somos limitados, ignorantes e teimosos. As supostas perversidades climáticas na verdade são reflexos de nossas ações destrutivas: construimos em regiões impróprias para tal. Muitas vezes o que salta aos olhos é a impiedade e frieza dos especuladores que vendem terrenos inviáveis para construções. Outras vezes é nosso relaxamento e falta de educação que saem dos bueiros entupidos, e surgem depois de uma boa chuva. E outras ainda são os desabamentos de encostas devido aos desmatamentos de diversos motivos. Se isso termina um dia? Creio que sim. Creio piamente na mudança e na nossa capacidade de superação. Senão, ainda estaríamos vivendo nas cavernas.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Um pouco de poesia, ou de tentativas dela:

"Uma ideia
brinca
no ar

Débil
pura
emoção.

Salta
mergulha

Trazê-la
racionalmente
significa
trabalho.
Pra não perder
sua...
frágil...
ideia...
Pronto.
Voou."

Escrevi isso nos anos 80. Período em que estava a descobrir a mim mesma e ao mundo. Escrever poesias não é fácil. Mesmo agora, relendo algumas das tentativas, tenho vontade de reescrevê-las, porém,sem modificar sua essência, (esta daí foi escrita na horizontal, mas parece que o computador não entende disso e modifica tudo).
Daí minha imensa admiração pelos poetas e escritores. É árduo o ofício.
Tenho os meus poetas preferidos: Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles. Agora descobri o Cassiano Ricardo e estou lendo o seu livro Martim Cererê. É adorável. Deveria tê-la lido no 7º ano, antiga 6ª série. Entender a mistura de que somos feitos,os brasileiros, a partir de Martim Cererê, teria sido muito mais interessante e envolvente.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2010...

2010, ou vinte e dez, segundo os novaiorquinos, será um ano de muitas realizações positivas no campo econômico. Isso nas análises dos economistas. Afirmam que, por ser um ano após a última crise, a economia retoma o fôlego, e então entra em novo ciclo de investimento. Resta saber se haverá, na mesma proporção, uma melhor distribuição de renda no mundo. É querer demais?

Outro aspecto importante a ser discutido e buscado soluções é nossa relação com o meio ambiente. Quem se dispõe a andar a pé? Qual empresa transnacional colocará à disposição dos simples mortais tecnologias de ponta no âmbito dos transportes e energias limpas?

O ser humano vive aqui há muito pouco tempo e definitivamente a terra não precisa de nós. Acredito que poderemos ter mais um salto de qualidade em nossas consciências, entendendo melhor essa relação. Daí me lembrar daquela famosa carta do chefe indígena ao presidente estadunidense em 1854: "...Isto sabemos: a terra não pertence ao homem: o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma lição em tudo.O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo."