domingo, 31 de julho de 2011

Aula de Campo - Um brinde ao retorno das aulas

Meu primeiro contato com o professor Santos de Souza Guerra foi na sala de aula, no curso de Estudos Sociais da FACHI, bem antes da Funcesi. Início dos anos 1990. Dava aulas de Geografia. Tinha uma característica que logo me chamou a atenção: falava baixinho. Após sua entrada, murmurava uma saudação e se postava ao lado da mesa do professor, iniciando sua aula. A turma tinha que fazer silêncio quase absoluto para entender o que dizia. É uma pessoa sagaz e de um humor fino. Ele "sorri com os olhos", tamanha discrição. Mas não se percebe isso logo de cara, não. Tem que se prestar atenção. "Por reparo", como se diz. Uma vez, numa excursão a Ouro Preto, depois de muito caminhar, fomos ao Museu da Inconfidência. Após um tempo visitando as dependências do Museu, o "Santin" (como o chamamos agora) sumiu. Voltei para procurá-lo e o encontrei deitado no chão de uma das salas. "Estou muito cansado, chega!", disse fitando o teto. De outra vez, numa aula de campo na Usina de São José, em Itabira, desafiou seus pupilos a subirem nas árvores. Quando vimos, lá estava ele, no alto de uma delas. A garotada adorou. Com ele aprendi a pensar e a amar o lugar onde moro. Uma aula que me marcou foi a que fizemos no centro histórico de Itabira. Num espaço de menos de cem metros, ele descortinou algo em torno de trezentos anos de história. Conseguimos viajar no tempo e no espaço, pois ele sai do local para o geral e retorna ao agora com uma leveza e encantamento que contagia a todos. Impossível não aprender desse jeito. Quem me dera conseguir realizar  um dedo mindinho dessa proeza com meus alunos. Tentar, a gente tenta... O "Santin" segue trabalhando na SME, no chamado NIEP (Núcleo Itabirano de Educação Permanente). Nossa última aula foi na zona rural de Itabira, no Distrito de Ipoema. O roteiro: Itabira, Estrada da Serra de Santo Antônio, Fazenda Santa Catarina, Povoado de São José do Turvo, Área urbana do Distrito de Ipoema, Morro Redondo, Povoado de São José do Macuco, Itabira. Oh,  região linda! Em cada ponto, registro de impressões, reflexões sobre o que a paisagem nos dizia, ou o quê conseguíamos decifrar dela. Tudo era observado: matas, estradas, posição e uso das construções, possíveis relações sociais e econômicas estabelecidas naquelas paragens...E lá fomos, construindo conhecimentos sobre nós mesmos... O Morro Redondo é um marco, por sua forma peculiar e por possibilitar um grande potencial turístico na região. Só amamos e conservamos aquilo que conhecemos e identificamos como importante. Esse é o propósito dessas aulas. O "Santin" escreveu dois livros encantadores sobre Itabira, "A Identidade do Espaço Rural Itabirano: percursos novos em caminhos antigos" e "Memória e Identidade Cultural - a diversidade das expressões culturais e folclóricas de Itabira", ambos publicados pela editora da Funcesi, com recursos do MEC. Infelizmente, não estão disponíveis para a comercialização. Espero que essa situação não perdure, e que ambos possam ser postos no mercado. As imagens a seguir foram feitas no dia. A região é linda. Vamos torcer que seja preservada por muitos e muitos anos. E que o turismo realizado por lá, não destrua esse paraíso.
Mirante da Serra de Santo Antônio-Itabira-MG


Mirante do Distrito de Ipoema-Itabira-MG- Morro Redondo ao fundo


Vista do Morro Redondo- Distrito de Ipoema-Itabira-MG
Vista do Morro Redondo- Distrito de Ipoema- Itabira-MG-Ao fundo, Serra do  Itambé.
Sede do Distrito de Ipoema- Itabira -MG

Aula de Campo

Meu primeiro contato com o professor Santos foi na sala de aula do curso de Estudos Sociais, na FACHI, bem antes da FUNCESI. Início dos anos 1990.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre o Festival de Inverno de Itabira.

Por quase onze anos, devido a questões muito pessoais, não participei dos Festivais de Inverno... Mas este ano resolvi que não perderia nenhum evento. Consegui ir a shows memoráveis: Babi Jaques e os Sicilianos foi sensacional. Kiko Klaus, Cobra Coral foram estupendos. Os que se apresentaram no Paredão, sabíamos que eram bons, mas, a qualidade da sonorização deixou-nos muito irritados, pois não conseguíamos entender o que os cantores cantavam. Uma lástima! O Bar do Deli ficou lotado de amigos que não via há um bom tempo...
Dancei muito na Matinada, ao som de excelentes bandas: DR80, Mudrond, Vil Metal, Pepeu Gomes, Tianastácia...Maravilha. Voltei, por alguns instantes, ao meus 15, 16 anos. Nunca se tocou tanto os anos 60, 70. Impressionante. Fiz várias reflexões sobre esse estado em que falamos, instintivamente, no meu tempo, quando nos referimos a algo muito bom que nos aconteceu, como se agora fosse um tempo que não nos pertencesse, e que é pior. Como se nada mais fizesse muito sentido hoje. Daí que, esse no meu tempo quer mesmo dizer quando era jovem fisicamente. Porém, considero meu tempo agora mesmo. E a música, essa atividade que nos transforma e religa ao que há de mais humanamente divino e sagrado na vida, consegue essa proeza. Como ficar imune ao som de uma guitarra quando sola um  Zeppelin, um Stone, um Doors, um Hendrix? Penso ser praticamente impossível. Amei todos os shows que participei.
Mas... Poderia ter ido a mais, não fosse uma agenda, pra mim, maluca.  Teve noites em que havia dois espetáculos quase no mesmo horário e em lugares diferentes. Trevoso! Imagina que colocaram uma apresentação de música barroca num templo evangélico! Credo. Nada contra. Mas estranhei...Ou será que não devia? 
Uma coisa que não consegui escapar foi da mania que temos de comparar períodos. Quando os festivais de inverno começaram em nossa cidade, há 37 anos, toda a programação de shows e teatros rolava no palquinho do Colégio Nossa Senhora das Dores. Era então o início dos anos 1970. Vi shows memoráveis: Marília Medalha, se não me engano O Têrço (foi a primeira vez que escutei As criaturas da noite e, viajei...), 14bis, Beto Guedes, Bedengó, Tarancón e muitos outros. Peças teatrais com textos do Bertolt Brecht, Cobra Norato. Esse espetáculo muito me surpreendeu por conta do jogo de cores ressaltadas pela utilização de luz negra. Hoje, isso é banal, mas naquela época...Mas mais que todos os espetáculos assistidos, o que ficou na lembrança e é o que propicia mais saudade era que íamos assistir, participar dos eventos num lugar aconchegante, quentinho. Depois sim, butecos mil até altas horas. E ás vezes, outras cositas mas. Puro deleite. A ideia de se construir um centro cultural em Itabira surgiu nesse período, pois ficou constatado que havia público e a necessidade de um espaço mais confortável e adequado para tal. 
Shows como os que aconteceram no estacionamento da Fazenda do Pontal seriam muito melhor apreciados se tivessem ocorrido no teatro da Fundação. E as peças de teatro apresentadas na praça Acrísio?  Todos excelentes para serem curtidos  atentamente e depois comemorados em rodas de conversas regradas a vinhos e mesmo cervejas. É que os festivais permitem reencontros de amigos e encontros novos.  Ao povo de Itabira: o teatro da Fundação é nosso. Que ele seja melhor aproveitado e que as autoridades deixem de lado o medo do povo e abram finalmente as portas do teatro para espetáculos de boa qualidade. Nós merecemos! 
No encerramento, aí sim, na Concha Acústica, fomos brindados com a Lúdica Música. Ficou com gostinho de quero mais. Muito mais.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Diante das denúncias, cada vez mais comuns, de corrupção nas obras do PAC, reli o texto abaixo no Blog da Marly e, pedindo licença a ela, divulgo o mesmo nesta página. Mesmo tendo sido escrito há algum tempo, num contexto diferente, permanece atual. É um verdadeiro manifesto de indignação profunda contra esse mal que insiste em permanecer nas ações políticas de nosso mundo. Evoé, Hilda Hilst!

"E.G.E.
(Esquadrão Geriátrico de Extermínio)
Crônica de Hilda Hilst para o "Correio Popular" de Campinas-SP
      O poeta pode ser violento. A maior parte das vezes contra si mesmo. Um tiro no peito, gás, veneno, um tiro na boca, como fez Hemingway, que também foi poeta em O Velho e o Mar; Maiakóvski, um tiro no peito; Sylvia Plath, gás de cozinha; Ana Cristina César, um salto pelos ares; etc etc etc. "Os delicados preferem morrer", dizia Drummond. Mas esta modesta articulista, sobretudo poeta, diante das denúncias feitas pela revista Veja, todos aqueles poços perfurados em prol de uma única pessoa ou em prol de amiguelhos de sua excelência, presidente da Câmara, senhor Inocêncio (a indústria da seca), e o outro com seu lindo carro às custas de gaze e esparadrapo... Credo, gente, quando você vê televisão ou in loco o povão famélico, desdentado, mirrado... Um amigo meu foi para o Ceará e passou os dias chorando! As crianças todas tortas, todos pedindo comida sem parar... e 500 toneladas de farinha apodrecendo... e montes de feijão desviados para uma só pessoa... (um parênteses, porque meu coração de poeta pede a forca, o fuzilamento, cadeia, cadeia para aqueles que se locupletam à custa da miséria absoluta, da dor, da doença). Gente, eu já estou uma fúria e para ficar mais calma proponho algumas coisas mais sutis, por exemplo: o Esquadrão Geriátrico de Extermínio, a sigla óbvia seria EGE. Arregimentaríamos várias senhoras da terceira idade, eu inclusive, lógico, e com nossas bengalinhas em ponta, uma ponta-estilete besuntada de curare (alguns jovens recrutas amigos viajariam até os Txucarramãe ou os Kranhacarore para consegui-lo) nos comícios, nos palanques, nas Câmaras, no Senado, espetaríamos as perniciosas nádegas ou o distinto buraco malcheiroso desses vilões, nós, velhinhas misturadas às massas, e assim ninguém nos notaria, como ninguém nunca nota a velhice. Nossas vidas ficariam dilatadas de significado, ó que beleza espetar bundões assassinos, nós faceiras matadoras de monstros!
      O curare é altamente eficiente, provoca rapidinho a paralisia completa de todos os músculos transversais (bunda é transversal?) e em seguidinha sobrevém a morte por parada respiratória. Ficaríamos todas ao redor do coitadinho, abanando: óóóó, morreu é? Um pedido ao presidente Itamar: severidade, excelência, é ignominioso, indigno, insultante para todos nós, deste pobre Brasil tão saqueado, que essas terríveis denúncias terminem no vazio, no nada, na impunidade. É sobretudo perigoso porque:
      de cima do palanque
      de cima da alta poltrona estofada
      de cima da rampa
      olhar de cima
      LÍDERES, o povo
      Não é paisagem
      Nem mansa geografia
      Para a voragem
      Do vosso olho.
      POVO, POLVO
      UM DIA.
      O povo não é o rio
      De mínimas águas
      Sempre iguais.
      Mais fundo, mais além
      E por onde navegais
      Uma nova canção
      De um novo mundo.
      E sem sorrir
      Vos digo:
      O povo não é
      Esse pretenso ovo
      Que fingis alisar,
      Essa superfície
      Que jamais castiga
      Vossos dedos furtivos.
      POVO. POLVO.
      LÚCIDA VIGÍLIA.
      UM DIA."
(Segunda-feira, 3 de maio de 1993)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Recesso...

O que antes era "férias de julho", com direito a pausa nas escolas de 30 dias corridos, virou recesso de 10 dias úteis. E nem por isso nossos estudantes melhoraram o desempenho. Enfim, para os nobres legisladores, quantidade é mais importante que qualidade (para quem ainda duvida, é só verificar os contracheques dos mesmos).
Então, vamos aproveitar um pouco pra aumentar nosso nível de leitura, e aí verificaremos que o recesso é mesmo muito pouco...Enfim, deixemos de lado esse contratempo e vamos a algumas dicas...
Dia desses, quando estava de bobeira na rodoviária em BH, esperando ônibus pra SP, descobri, escondido numa prateleira de uma daquelas livrarias um título que me intrigou por demais: "Quando o passado acabar - Ensaio contemporâneo sobre Estados Arcaicos", de um tal Alexssandro Oliveira. Curiosa como sou, resolvi saltar no escuro (mais uma vez), comprei o livro e tive uma bela surpresa. O rapaz é um filósofo, e seu livro- publicado em 2001 - foi prefaciado pelo professor de Filosofia da PUC, Alfeu Trancoso. Olhem só uns pedacinhos desse caminho que nos é propiciado no referido prefácio:
De há muito sabemos que a tarefa reflexiva requer um esforço e uma dedicação sem conta. [...] Ao refletir sobre o cotidiano, Alexssandro nos coloca diante da evidência radical: somos mais que sabemos e somos apenas um ponto (de vista) na infinita possibilidade deles. Saber é apenas o Ser em sua expressão pontual. O diálogo, a humildade socrática (sei que nada sei) nasce dessa consciência de que não sou nem sei. Certo de que a resposta dessa consciência terá sempre o destino de criar perguntas, pois em filosofia é a interrogação que permanece."  E então, o que vem depois é bem gostoso. Leitura agradável e instigante.
Mas, como todo mundo, não consigo ficar com apenas um título, resolvi começar a ler o famoso "A arte da guerra", de Sun Tzu. Já na introdução: "Diz a lenda que um nobre da antiga China certa vez perguntou ao seu médico, membro de uma família de terapeutas, qual dos seus familiares era o mais hábil na arte da medicina.
O médico, de uma reputação tão difundida que seu nome era sinônimo da própria ciência médica na China, respondeu: "Meu irmão mais velho percebe o espírito da doença e o remove antes que possa assumir qualquer forma, e por isso seu nome não sai de casa.
"Meu segundo irmão mais velho cura a doença quando esta ainda é bem pequena, e por isso seu nome não passa da vizinhança.
"Quanto a mim, perfuro as veias, prescrevo poções e massageio a pele, e por isso, de tempos em tempos, meu nome cruza as fronteiras e chega aos ouvidos dos nobres."
Demais esses asiáticos, não? E dá-lhe reflexão...
Quando estudamos a história da arte, nos deparamos com a riqueza de detalhes das artes chinesas e japonesa. Impossível não se encantar e refletir sobre as experiências vivenciadas por esses povos ao longo de sua existência. O que podemos aprender com eles? Fora esses exemplares interessantes, muita música e conversas intermináveis, com amigos, parentes e na rede. Amo os recessos!