sábado, 11 de agosto de 2012

Fulosina, meu anjo.

Pessoas...Existem algumas muito especiais. Transitam por nossas vidas de uma forma tão delicada que nos ajudam a caminhar mais crentes que realmente anjos existem. Fulosina (esse é o verdadeiro nome dela) chegou em nossa casa há quase trinta anos para lidar com os afazeres domésticos e ajudar minha mãe com os serviços da casa: arrumar, lavar, passar, cozinhar. Minha mãe sempre teve como lema que, uma vez explicado e entendido o que fazer, delega-se e cada um respeita o combinado. Jamais foi de regrar o que consumir, fosse com os produtos de limpeza, da casa ou pessoal, fosse com a alimentação. "Onde cabem dois, cabem mais, se houver necessidade". E assim se fez. Fulosina seguiu desenvolvendo com capricho as atividades, mantendo uma rotina que nos permitia nossa própria rotina de trabalho e estudo. Minha filha era recém-nascida e Fulosina tinha filhos quase que da mesma idade que ela e, às vezes, eles vinham com ela para nossa casa. As crianças brincavam juntas, e às vezes, minha filha ia dormir na casa da Fulô. Mas isso, segundo ela mesma, era muito tranquilo. Tinha passado por maus pedaços na vida antes de vir trabalhar em nossa casa. O pai não a permitiu estudar. O marido a deixou com dois filhos pequenos e foi embora para São Paulo...Então teve que se virar e criar os meninos sozinha. Disse-me que nessa época, morou em um barraco de lona, na beira de um córrego. Os adultos de sua casa tinham que sair para trabalhar. Não tendo com quem deixar as crianças, e necessitando muito trabalhar, temendo que ficassem na rua, ela os deixava em casa com uma missão: separar os grãos de feijão, milho e arroz que ela despejava numa grande peneira...Assim fazia todos os dias...Com o tempo, mudaram para uma casa melhor, em outro bairro de periferia.  Sempre a admirei por sua sabedoria: ao fazer isso com as crianças, ela os ajudou a desenvolver a coordenação motora-fina, a atenção e o senso de responsabilidade...Agora, são adultos, responsáveis. Ela se tornou avó. Esta quase aposentando aqui em casa. Nunca faltou ao trabalho, a não ser por causa de uma doença ou outra. Há dois anos, quando fiquei viúva e voltei a morar com meus pais, ficou apreensiva com o súbito aumento de serviço. Percebi logo pela sua expressão apreensiva ao me ver chegar com a pouca mudança, uma vez que me desfiz de quase tudo de minha casa. Ficou tranquila quando lhe garanti que teria uma ajudante nos serviços. Daí veio a irmã dela para ajudá-la duas vezes por semana. Dois anjos em nossas vidas. Minha mãe anda esquecida a contar as mesmas histórias de vida para elas. Elas as escutam sempre com aquele ar de surpresa, como se tudo o que ouvissem fosse a maior novidade, ao mesmo tempo em que oferecem um cafezinho novo, ou uma saladinha de frutas para ela. Elas piscam os olhos, em segredo, e sorriem. São de uma delicadeza ímpar... Nossas histórias se misturaram e realmente é uma benção conviver com as duas. Só tenho a agradecer, sempre!