quinta-feira, 28 de março de 2013

Sutilmente...

A Campanha de Prevenção do Câncer de Mama me fez recordar algo que aconteceu comigo.. E como a memória sempre faz com a gente, fui lembrar de outro fato ocorrido  há muito tempo...

Éramos três amigos de juventude e muito aventureiros... Haveria uma festa popular na vizinha cidade de Ferros... Muito curtida por todos, acredito que até hoje. Festa religiosa e cheia de músicos e grupos folclóricos. Todo mundo iria, mas eu e minha amiga e meu amigo, não tínhamos dinheiro para ir e vir de ônibus, e muito menos para hospedagem. Ficamos ali, matutando o que fazer, até que meu amigo falou: -Vamos de ônibus e lá arranjamos carona para voltar. Vamos encontrar com todo mundo lá, sempre tem lugar. - E para dormir? perguntamos. - Ora, dormimos na prainha! Nos entreolhamos e não deu outra:  cada um pegou o que julgava necessário para um dia literalmente fora de casa, e fomos. Quando chegamos em Ferros, era de tardezinha. A cidade, pequena, em 78, estava lotada, alegre, festiva..Caminhamos até tarde da noite, bebericamos em um bar e rumamos para a tal prainha.. A noite estava linda, estrelada, quente. E o barulho do rio era hipnótico. Acendemos uma boa fogueira e ficamos ali, deitados os três numa esteira e enrolados cada um num cobertor e mirando o céu estreladíssimo.. Acampamos perto da ponte que liga os dois lados da cidade e onde passaria a procissão.. Ficamos assistindo aquilo tudo acontecer e conversando sobre os significados da vida e outras conversas de malucos. Noite mágica. O dia amanheceu muito lindo, como sempre. E tocamos a caminhar pelo bosque no entorno do rio, enquanto a festa rolava na cidade próxima. Passou-se a manhã e resolvemos ir embora, eu e minha amiga, pois o nosso amigo quis ficar mais. Fomos mais cedo para a estrada pegar carona, pois vimos que o tempo estava virando para chuva. Em pouco tempo, conseguimos uma carona num fusca branco com dois rapazes, muito louquinhos. A estrada ainda era de terra e eles corriam muito. Começou a chover e, não sei explicar, mas o espelho retrovisor do fusca caiu. Como eles corriam muito, rapidamente o espelho ficou longe. Daí o motorista cismou de voltar para pegar o tal espelho. Ele nos olhou e falou: - Se vocês quiserem descer e pegar outra carona, tudo bem. E se não conseguirem, eu pego vocês na volta, ok? - Ok! respondemos e descemos do carro. Chovia e minha amiga tirou uma sombrinha de dentro da mochila. Rimos muito da situação e fomos caminhando estrada a fora. Para nossa surpresa, os caras voltaram  e não pararam. Passaram por nós numa velocidade absurda. Ficamos desoladas, mas seguimos em frente, até que uma outra carona apareceu. Quando chegamos a Santa Maria, vimos o fusca enfiado no meio de um poste, todo arrebentado e ficamos sabendo que o motorista havia morrido e o seu amigo estava mal.. Eu e minha amiga nos olhamos e agradecemos a algo que não sabíamos o quê, por ter nos livrado daquilo.
Em 2008, eu estava casada, e numa tarde alguma coisa me disse: marca uma consulta com sua médica. Meu marido era tetraplégico e eu sempre o levava ao médico, mas nunca eu ia consultar, pois não sentia nada. Sem pestanejar, liguei para minha médica e como um milagre, consegui uma consulta rapidamente, alguém havia desistido. Saí de lá com um encaminhamento de mamografia, pois havia quatro anos que não consultava. Fiz o exame, e tive que repetir. Fiquei injuriada de ter que refazer o tal exame, dolorido, mas me informaram que não tinha ficado bem. Assim que levei para minha médica, ela me informou que eu deveria ir a um mastologista em Belo Horizonte. Pensei: mas que preguiça!  Estranhamente as consultas foram uma seguida da outra. O mastologista marcou uma biópsia e eu entrei numa espécia de piloto automático.. Era como se nada daquilo estivesse acontecendo comigo. A biópsia é uma pequena cirurgia, mas com anestesia geral. O resultado deu positivo: era um câncer de 0,3 milímetros... Ele saiu todo no material colhido para o exame. Meu mastologista, que é da minha idade, me disse: - Lilian, agradece a sua médica, a Deus e vá tomar uma cerveja!!! Esse ano é o último ano de controle, e até agora ele não voltou. Mas algo me diz que passou. Obrigada, obrigada, obrigada!


sábado, 2 de março de 2013

Fé.

Segundo o dicionário Aurélio, Fé pode ser crença religiosa ou valores espirituais; conjuntos de dogmas e doutrinas que constituem um culto; adesão ou anuência pessoal a Deus e seus desígnios... Reconheço e compreendo que diante do mistério da vida, faço parte desse mistério e ao mesmo tempo o mistério existe, ad eternum, independente de minha fugaz existência. Deus como o Princípio Criador, ao mesmo tempo masculino e feminino, algo que nos ampara nas travessias sombrias, sim, eu creio que exista. Não sei se ocorre com todos, mas existe uma voz, muito sutil, que  me diz: - Vá! E quando isso me acontece, simplesmente não tenho como fugir. E são caminhos nos quais eu não gostaria mesmo de passar. Essa voz fala pouco, muito pouco comigo. Mas quando fala, é imperativo que eu a siga...São trilhas que me trazem sofrimentos, mas que ao mesmo tempo, geram um aprendizado importante sobre eu mesma e sobre as pessoas que participam, de algum modo, dessas travessias. E enquanto a sigo, sinto-me tão pequena diante dos cenários tristes, sombrios e pesados, tão incrivelmente só, que se não acreditasse  que um resgate, ao mesmo interno e externo, existisse, não teria sobrevivido... Esse "resgate" é Deus, para mim.
Sinceramente porém, não creio em dogmas religiosos, porque entendo que fazem parte de um plano muito humano, sem nos ligar ao que é sagrado, sem nos indicar que somos todos iguais em nossa finitude. Afora todo o arranjo institucional, permeado de vaidades e interesses estranhos ao divino...
Minha fé nesse princípio é maior que minhas dúvidas existenciais, e elas são tantas...