A Campanha de Prevenção do Câncer de Mama me fez recordar algo que aconteceu comigo.. E como a memória sempre faz com a gente, fui lembrar de outro fato ocorrido há muito tempo...
Éramos três amigos de juventude e muito aventureiros... Haveria uma festa popular na vizinha cidade de Ferros... Muito curtida por todos, acredito que até hoje. Festa religiosa e cheia de músicos e grupos folclóricos. Todo mundo iria, mas eu e minha amiga e meu amigo, não tínhamos dinheiro para ir e vir de ônibus, e muito menos para hospedagem. Ficamos ali, matutando o que fazer, até que meu amigo falou: -Vamos de ônibus e lá arranjamos carona para voltar. Vamos encontrar com todo mundo lá, sempre tem lugar. - E para dormir? perguntamos. - Ora, dormimos na prainha! Nos entreolhamos e não deu outra: cada um pegou o que julgava necessário para um dia literalmente fora de casa, e fomos. Quando chegamos em Ferros, era de tardezinha. A cidade, pequena, em 78, estava lotada, alegre, festiva..Caminhamos até tarde da noite, bebericamos em um bar e rumamos para a tal prainha.. A noite estava linda, estrelada, quente. E o barulho do rio era hipnótico. Acendemos uma boa fogueira e ficamos ali, deitados os três numa esteira e enrolados cada um num cobertor e mirando o céu estreladíssimo.. Acampamos perto da ponte que liga os dois lados da cidade e onde passaria a procissão.. Ficamos assistindo aquilo tudo acontecer e conversando sobre os significados da vida e outras conversas de malucos. Noite mágica. O dia amanheceu muito lindo, como sempre. E tocamos a caminhar pelo bosque no entorno do rio, enquanto a festa rolava na cidade próxima. Passou-se a manhã e resolvemos ir embora, eu e minha amiga, pois o nosso amigo quis ficar mais. Fomos mais cedo para a estrada pegar carona, pois vimos que o tempo estava virando para chuva. Em pouco tempo, conseguimos uma carona num fusca branco com dois rapazes, muito louquinhos. A estrada ainda era de terra e eles corriam muito. Começou a chover e, não sei explicar, mas o espelho retrovisor do fusca caiu. Como eles corriam muito, rapidamente o espelho ficou longe. Daí o motorista cismou de voltar para pegar o tal espelho. Ele nos olhou e falou: - Se vocês quiserem descer e pegar outra carona, tudo bem. E se não conseguirem, eu pego vocês na volta, ok? - Ok! respondemos e descemos do carro. Chovia e minha amiga tirou uma sombrinha de dentro da mochila. Rimos muito da situação e fomos caminhando estrada a fora. Para nossa surpresa, os caras voltaram e não pararam. Passaram por nós numa velocidade absurda. Ficamos desoladas, mas seguimos em frente, até que uma outra carona apareceu. Quando chegamos a Santa Maria, vimos o fusca enfiado no meio de um poste, todo arrebentado e ficamos sabendo que o motorista havia morrido e o seu amigo estava mal.. Eu e minha amiga nos olhamos e agradecemos a algo que não sabíamos o quê, por ter nos livrado daquilo.
Em 2008, eu estava casada, e numa tarde alguma coisa me disse: marca uma consulta com sua médica. Meu marido era tetraplégico e eu sempre o levava ao médico, mas nunca eu ia consultar, pois não sentia nada. Sem pestanejar, liguei para minha médica e como um milagre, consegui uma consulta rapidamente, alguém havia desistido. Saí de lá com um encaminhamento de mamografia, pois havia quatro anos que não consultava. Fiz o exame, e tive que repetir. Fiquei injuriada de ter que refazer o tal exame, dolorido, mas me informaram que não tinha ficado bem. Assim que levei para minha médica, ela me informou que eu deveria ir a um mastologista em Belo Horizonte. Pensei: mas que preguiça! Estranhamente as consultas foram uma seguida da outra. O mastologista marcou uma biópsia e eu entrei numa espécia de piloto automático.. Era como se nada daquilo estivesse acontecendo comigo. A biópsia é uma pequena cirurgia, mas com anestesia geral. O resultado deu positivo: era um câncer de 0,3 milímetros... Ele saiu todo no material colhido para o exame. Meu mastologista, que é da minha idade, me disse: - Lilian, agradece a sua médica, a Deus e vá tomar uma cerveja!!! Esse ano é o último ano de controle, e até agora ele não voltou. Mas algo me diz que passou. Obrigada, obrigada, obrigada!