segunda-feira, 26 de março de 2012

Rarefeita...

  E então quer dizer que as coisas todas se iniciam de forma incrivelmente simples...? E vão se tornando complexas à medida em que se tocam, se interagem, formando e transformando o seu próprio estar no mundo tangível e intangível, a tal ponto de mistura e fervura que deixam de existir de acordo com a forma inicial e se tornam novas realidades, novas propostas...?
Observemos as notas musicais...A partir dos sete tons/sons ( ou seja lá o nome correto...) surgem frases de Mozart, Paulinho da Viola, Pink Floyd....É de ficar embasbacada com tamanhas possibilidades...E então viro pro lado e vejo uma paisagem qualquer: uma estrada, uma flor, o céu do outono, um pássaro...Quando vejo minha filha, cega, andando por ai guiando-se pelos sons, calores e cheiros...De forma tão vacilante e segura ao mesmo tempo...Como não se impressionar? Como não se perguntar por que tudo isso? 
Mais que um caleidoscópio, mais que qualquer coisa imaginada, penso que devemos aproveitar, da melhor e mais solidária maneira possível esse nosso despertar entre o nascer e o morrer...E o que pensar dos seres humanos que passeiam por esse espaço/tempo, com seus cheiros, peles, olhares e conclusões, ou falta delas sobre o que percebem...? Às vezes, sinto vontade de penetrar em cada um e observar como eles observam o que se passa...Às vezes, penso que consigo, às vezes...
Por esses dias, tenho andado assim, como quem caminha nas nuvens, como se estivesse gestando luz, uma luz interna que me aquece a alma e me faz sentir uma imensa alegria à toa...Uma alegria em forma de agradecimento à vida, sem pieguices...Estranhamente, vejo surgir rugas em minha face, minha pele se cobrindo de vincos e algumas manchas de sol que me mostram que já estou há algum tempo nesse lugar...Tenho me sentido cada vez mais livre...O que esse despojamento de mim, de meu corpo, e esse estado íntimo de caminhar mais segura por entre nuvens, esse tesão pela vida, quer me mostrar? 
Absolutamente esse meu estado íntimo não rima com alienação...O mal existe por aí, e se manifesta a todo instante: corrupção, poluição, violência, depressão...Esse não é, definitivamente, um bom tempo pra se sentir assim...Mas, quando ouço uma música, quando percebo uma luz de entendimento no olhar de algum aluno, quando me sinto atraída/apaixonada por um homem (sim, sou hétero...) é o suficiente pra retornar àquele estado de rarefeito  êxtase... E agradeço a cada dia por me sentir assim, no aconchego de minha alma, nesse lugar em que poucos, muito poucos tem acesso...
Caminho na trilha do Laboriaux, Itabira, MG

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