Quase sempre se enfastiava e ansiava por novidades, como se a vida fosse uma eterna sucessão de originalidades imperdíveis. Intuía que entre as pessoas isso era mesmo impossível, então sonhava em conhecer cada rua, esquina, trilha, que estivesse à disposição para serem percorridas, calmamente, como se sorve um bom café, um bom vinho...O cheiro das ruas, o odor das matas, o ar úmido das manhãs, um muro coberto de heras, uma janela entreaberta, uma criança absorta em uma brincadeira, um velho com passos vacilantes, um caminhoneiro que se ia estrada afora...Tudo isso lhe acenava com novidades interessantes.
Uma tarde, sem muito o que fazer, deitou-se na rede, mirando o céu azul, tão profundamente azul, que lembrou dos olhos dele. Quando se olharam pela primeira vez ela viu o infinito naqueles olhos. Pensou:- Meu Deus, que trilhas são essas que se abrem tão dentro e fora e fundo? Desviou o olhar pois sabia onde aquilo iria dar... Mas agora, podia ver, mirando o céu, o quanto ele a desejou e era como se aquele infinito a acariciasse. Então não sabia distinguir se o calor que sentiu vinha de dentro ou se era o sol, que vagarosamente deslizava naquele céu que era o olhar dele... Uma brisa soprou levemente e ela lembrou de outros olhares infinitamente negros como a noite, intensamente castanhos como a terra, transparentes como a água límpida de rios e cachoeiras...Todos lhe mostrando novos caminhos a serem percorridos, tocados, sentidos. O brilho das primeiras estrelas da noite acenaram que estava na hora de ir comprar o pão. A urgência de sua fome a fez retornar à vida...
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