quarta-feira, 11 de julho de 2012

Para ler com os ouvidos...

A frase do Nietzsche: "Sem música, a vida seria um erro", convenhamos, faz todo sentido. Uma de nossas primeiras lembranças agradáveis é a voz de alguém cantando uma cantiga de ninar....Como esse gesto acalma qualquer criança, não é verdade?
Lembro-me de um acampamento que fizemos eu, um namorado e um casal de amigos, em que acordei ao som de pássaros cantando na mata...A luz do sol da manhã filtrava-se no azul de nossa barraca e então me senti, literalmente, no paraíso: eu, meu amor, pássaros cantando num ambiente azul, azul.......Lá fora, um leve soprar de brisa suavemente tocava nas folhas das árvores...Inesquecível...Em momentos assim, acredito que harmonias existem por todos os lados, basta prestar atenção ao seus toques sutis, mas intensos.
Eu nasci em 1960. Brincávamos muito nas ruas, nos quintais: hora de casinha, hora de bolinha de gude, hora de faroeste, hora de show, quando então organizávamos campeonatos de completar uma frase com uma música da época...Uma delícia! Uma vez, tivemos a ideia de formar um conjunto. Um primo, muito habilidoso, fez uma guitarra de madeira e me emprestou (sim, porque ele não me deu não), meu irmão montou uma bateria com latas de banha e uns pratos de uma balança, e um amigo arranjou um triangulo...Imaginem só a cantoria na cabeça de meus pais, que só olhavam e riam de nossas fantasias...Éramos fãs da Jovem Guarda e cantávamos muito os sucessos de então, mas a nossa preferida era O Calhambeque, do Roberto Carlos...
Com o passar dos anos, o rádio de pilha, a vitrolinha, e a radiola na sala de visitas passaram a ser nossos objetos de desejo, disputadíssimos. Meu pai era eletricista e nossa casa vivia cheia desses ícones por todos os lados. Minha mãe e minha irmã mais velha tinham um programa preferido numa rádio e então, todos escutávamos atentos as transmissões. O rádio ficava em cima da geladeira, de tal modo que alimentar-se estava intimamente ligado a ouvir música...Até que um dia escutei, na vitrolinha vermelha de meu primo, "Revolution", dos Beatles. Tinha então nove anos. Lembro-me que em 1969 aconteceram dois fatos marcantes em minha vida: o homem pisou na Lua e escutei Revolution. Mudanças significativas ocorreram-me internamente...
De certa forma, percebi que as coisas podiam mudar, se quiséssemos. Entrei na adolescência, onde tudo é possível, e o mundo é um lugar de descobertas e limites a serem vencidos. Recordo-me  que os livros passaram a ser uma constante em minha vida. Devia ser muito tímida, pois  meu passatempo predileto era ler, e escutar música, hábitos possíveis somente se estivermos sós. Li de tudo, até mesmo a bíblia. Encantei-me pelo evangelho de São Mateus. Lia, lia, lia. E escutava música...Então, as que mais me marcaram foram essas pérolas:
Até que um dia, vendo um programa na tv, chamado Sábado Som, vi e ouvi Pink Floyd...Paixão à primeira audição, abriu-me internamente um mundo de sensações inesperadas e muitos prazerosas...A vida é harmonia, equilíbrio de luz e sombra, como já o disseram. E Música, assim, com inicial maiúscula, é vida.

2 comentários:

Marlon Maia disse...

Que delícia de texto, acompanhado dessas preciosidades musicais...a música é fundamental, é um tempero pra vida e nos influencia e marca tanto!!

Unknown disse...

A música é vida, sim!