Meu primeiro contato com o professor Santos de Souza Guerra foi na sala de aula, no curso de Estudos Sociais da FACHI, bem antes da Funcesi. Início dos anos 1990. Dava aulas de Geografia. Tinha uma característica que logo me chamou a atenção: falava baixinho. Após sua entrada, murmurava uma saudação e se postava ao lado da mesa do professor, iniciando sua aula. A turma tinha que fazer silêncio quase absoluto para entender o que dizia. É uma pessoa sagaz e de um humor fino. Ele "sorri com os olhos", tamanha discrição. Mas não se percebe isso logo de cara, não. Tem que se prestar atenção. "Por reparo", como se diz. Uma vez, numa excursão a Ouro Preto, depois de muito caminhar, fomos ao Museu da Inconfidência. Após um tempo visitando as dependências do Museu, o "Santin" (como o chamamos agora) sumiu. Voltei para procurá-lo e o encontrei deitado no chão de uma das salas. "Estou muito cansado, chega!", disse fitando o teto. De outra vez, numa aula de campo na Usina de São José, em Itabira, desafiou seus pupilos a subirem nas árvores. Quando vimos, lá estava ele, no alto de uma delas. A garotada adorou. Com ele aprendi a pensar e a amar o lugar onde moro. Uma aula que me marcou foi a que fizemos no centro histórico de Itabira. Num espaço de menos de cem metros, ele descortinou algo em torno de trezentos anos de história. Conseguimos viajar no tempo e no espaço, pois ele sai do local para o geral e retorna ao agora com uma leveza e encantamento que contagia a todos. Impossível não aprender desse jeito. Quem me dera conseguir realizar um dedo mindinho dessa proeza com meus alunos. Tentar, a gente tenta... O "Santin" segue trabalhando na SME, no chamado NIEP (Núcleo Itabirano de Educação Permanente). Nossa última aula foi na zona rural de Itabira, no Distrito de Ipoema. O roteiro: Itabira, Estrada da Serra de Santo Antônio, Fazenda Santa Catarina, Povoado de São José do Turvo, Área urbana do Distrito de Ipoema, Morro Redondo, Povoado de São José do Macuco, Itabira. Oh, região linda! Em cada ponto, registro de impressões, reflexões sobre o que a paisagem nos dizia, ou o quê conseguíamos decifrar dela. Tudo era observado: matas, estradas, posição e uso das construções, possíveis relações sociais e econômicas estabelecidas naquelas paragens...E lá fomos, construindo conhecimentos sobre nós mesmos... O Morro Redondo é um marco, por sua forma peculiar e por possibilitar um grande potencial turístico na região. Só amamos e conservamos aquilo que conhecemos e identificamos como importante. Esse é o propósito dessas aulas. O "Santin" escreveu dois livros encantadores sobre Itabira, "A Identidade do Espaço Rural Itabirano: percursos novos em caminhos antigos" e "Memória e Identidade Cultural - a diversidade das expressões culturais e folclóricas de Itabira", ambos publicados pela editora da Funcesi, com recursos do MEC. Infelizmente, não estão disponíveis para a comercialização. Espero que essa situação não perdure, e que ambos possam ser postos no mercado. As imagens a seguir foram feitas no dia. A região é linda. Vamos torcer que seja preservada por muitos e muitos anos. E que o turismo realizado por lá, não destrua esse paraíso.
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Mirante da Serra de Santo Antônio-Itabira-MG |
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Mirante do Distrito de Ipoema-Itabira-MG- Morro Redondo ao fundo |
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Vista do Morro Redondo- Distrito de Ipoema-Itabira-MG |
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Vista do Morro Redondo- Distrito de Ipoema- Itabira-MG-Ao fundo, Serra do Itambé. |
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Sede do Distrito de Ipoema- Itabira -MG |
2 comentários:
Oi, Lilian! Quando eu dei aulas de história lá em Mariana eu tinha um grande sonho que era o de dedicar uma boa parte da grade curricular ao estudo daquela região, uma das mais ricas para a história de minas e do brasil. Uma pena,porque a maior parte do tempo foi em pre-vestibular (já viu a correria, né?). As pessoas sequer conhecem o lugar onde nascem e moram uma vida inteira. Sem contar que essa metodologia pode fazer os alunos gostarem muito mais de estudar história. Além de reforçar os laços identitários do sujeito. Parabéns a você e ao Santim. Isso é muito bacana. Abração. paz e bem.
Não fui aluna do Santim, mas tenho o prazer de ser amiga e conhecer parte das histórias através de sua fala não tão mansa, mas incrível. Amo meu amigoirmão. Lindas palavras e parabéns por ter tido a oportunidade de estudar com ele.
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